O caráter educativo da economia solidária: o caminho do desenvolvimento como liberdade a partir da experiência da Cooperafis

São Paulo : Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, 2010. Dissertação de Mestrado em Educação.

Thais da Silva Mascarenhas, 2010

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Resumen :

Numa sociedade marcada pela intensa competição, individualismo, produtividade, consumismo e hierarquia, a economia solidária surge configurando-se como alternativa de modo de produção e distribuição, baseada na posse dos meios de produção pelos trabalhadores e na autogestão. São cooperativas, associações, clubes de trocas e redes de articulação com valores e práticas comuns, que se unem na construção de um movimento social. Nelas, os trabalhadores constroem conjuntamente a experiência cotidiana do trabalho autogestionário, compartilhando uma cultura fundamentada em valores como a cooperação, a solidariedade, a igualdade e a tolerância. A educação popular se faz presente no processo de formação dos integrantes desse movimento social, por meio da troca de conhecimentos e da vivência de um processo de aprendizagem de novos valores, que se irradia para além do trabalho, abrangendo outras dimensões de suas vidas. Essas experiências contribuem para a construção de um outro caminho de desenvolvimento da sociedade. Esse caminho assemelhase em muito com a perspectiva pluralista de desenvolvimento do economista indiano Amartya Sen, que vai muito além da concepção simplista do aumento de renda, centrando-se na valorização do processo de expansão das liberdades reais que as pessoas desfrutam. Isto inclui, além do econômico, o político, o social, a transparência de informações, entre outros. E estes se influenciam mutuamente. Esta pesquisa examina como os processos educativos presentes nas experiências de economia solidária, que se baseiam em princípios e práticas da educação popular, influenciam o desenvolvimento, entendido como a expansão das liberdades. Os estudos sobre a economia solidária, a educação popular e o desenvolvimento como liberdade se fundamentam nos autores Paul Singer, Paulo Freire e Amartya Sen, respectivamente, e servem como base para a análise da experiência da Cooperafis, uma cooperativa de 122 mulheres que trabalham com artesanato em sisal e outras fibras naturais do semiárido baiano. A análise destaca diversas mudanças e aprendizados, a partir da observação do cotidiano de trabalho dessas mulheres e de seus depoimentos: a valorização da liberdade, a expansão da liberdade no trabalho e em outros âmbitos da vida, como o doméstico, educacional, cultural e ambiental, o assumir-se como sujeito de sua história, o enfrentamento da opressão, a valorização da democracia, entre outros. Mesmo com as dificuldades encontradas, o caráter educativo da experiência está presente a todo momento, explicita ou implicitamente, misturando educação e trabalho e incentivando a criação e recriação participativa dos caminhos do desenvolvimento.