O papel dos territórios na transição econômica

Desde o final do século XX, frente à globalização e homogeneização pelo mercado, com suas consequências sociais e meio-ambientais, as instituições têm se focalizado na noção de desenvolvimento local sustentável. Assim sendo, o território, base geográfica da existência social, poderia adquirir de novo toda a sua importância:

• no nível humano, pelo tecido das relações humanas e das dinâmicas culturais e sociais;

• no nível econômico: através da intervenção de um conjunto de atores que pode construir, de maneira conjunta e coerente, a oferta e a procura, canalizando as diferentes energias e levando-as a complementar-se, como fonte de inovação e de dinamismo econômico;

• no nível político: colocando o foco na importância relacional que pode existir entre a sociedade civil e as autoridades locais, como pedra fundamental de uma governança democrática forte, na qual a dinâmica da mudança social se expressa através das ações dos atores sociais sobre seu território;

• no nível ecológico: por uma adequada gestão dos recursos.

A economia solidária, por sua dupla finalidade, econômica e social, por seu funcionamento sócio-econômico coletivo e participativo, pelo questionamento aos princípios de funcionamento da economia, e mais amplamente por sua pretensão de fazer algo diferente da economia, se inscreve neste movimento de territorialização, de geração de valor e de riqueza localmente integrada, apelando a competências em matéria de desenvolvimento econômico e de ação social, integrando as iniciativas sócio-econômicas da sociedade civil à criação de bens, de serviços e de empregos que atendam as necessidades das populações locais e fortaleçam a coesão social. Além disso, a governança democrática das iniciativas da economia solidária se aproxima da noção de democracia de proximidade ou até de democracia participativa, colocando, sem mais, um verdadeiro desafio político entre as autoridades locais e a sociedade civil. O território, fortemente envolvido em um espaço determinado, devido à grande proximidade dos atores e ao dispositivo em rede, parece ser o campo de ação adequado para quem desenvolve projetos na área da economia solidária.

Um financiamento solidário territorializado que ponha em circulação uma poupança de proximidade, a implementação de circuitos curtos entre quem solicita um empréstimo e quem poupa, a criação de fundos de caução mútua, o acompanhamento a quem desenvolve projetos, sistemas de intercâmbio econômico entre consumidores e produtores agrícolas em um espaço localizado em circuitos curtos, como por exemplo, os AMAP na França, as experiências de orçamento participativo na África ou em outros lugares, as moedas locais quase no mundo inteiro, os pactos locais para a coesão social e o emprego na França e agora na Europa são também práticas que podem combinar-se com a co-construção de políticas públicas de promoção e de apoio à ESS, de fortalecimento das redes, de criação de empregos e de atividades, de financiamentos e de acesso aos mercados públicos para construir solidariedades locais, a articulação de habilidades e competências, parcerias entre os atores sociais e os inícios de uma nova economia, que respeite mais o planeta e seus habitantes.